terça-feira, 8 de maio de 2018

A história de Raquel na Umbanda


Uma boa reflexão!!!
Pergunto:
Será que a Umbanda está mais para rituais ou para evangelização?

Tenho percebido uma busca das pessoas por rituais na Umbanda que venham dar a elas uma prespectiva ou até mesmo uma solução para seus problemas pessoais. Pessoas que ouviram falar da Umbanda de uma forma muito superficial, e acreditam que podem achar uma saída para tudo.

▶Uma história real:

- (Raquel) Não aguento mais tudo isso, tudo está dando errado, perdi meu emprego, briguei com meu marido, meus filhos não dão mais ouvidos para o que eu falo, meus amigos se afastaram e não querem me ajudar, não sei mais o que fazer!!!

- (Pedro - Médium de Umbanda) Olha eu sei que as coisas estão difíceis, posso imaginar, mas posso te dar um conselho? Por que você não vai no centro comigo? Lá talvez você possa receber uma ajuda.

- Deus me livre disso, ja ouvi falar muito desse negócio de macumba, e não quero isso pra mim.

- Bom, você que sabe!!! Só quis te ajudar a encontrar uma saída. Mas se precisar é só me chamar que eu te levo lá, você vai ver que não é nada disso que você imagina.

O tempo passou e a Raquel foi percebendo que seus problemas foram aumentando, seu desespero também, até que chegou um momento em que ela pensou:

"Poxa, bem que eu poderia tentar ir neste tal centro, eu ja houvi falar muito que eles fazem trabalhos que podem resolver problemas, não custa nada tentar, pra falar a verdade não tenho mais nada a perder!".

Chegou o dia da Gira e a Raquel juntamente com seu amigo Pedro foi até o terreiro. Chegando lá começou a perceber que era totalmente diferente daquilo que ela tinha em mente, viu os médiuns com roupas brancas e guias no pescoço, viu que as pessoas que estavam em silêncio e sentadas aguardando o início dos trabalhos, sentiu uma paz naquele lugar, ela se acomodou em uma cadeira e começou a orar, pedindo para que ela pudesse encontar alí uma solução para seus problemas. Fechou os olhos e aos poucos foi se acalmando, uma brisa passou em seu rosto, como um sopro em sua face, algo que manteve ela concentrada em sua oração.

Talvez por medo do que era desconhecido ela se manteve com olhos fechados até o momento em que os atabaques começaram a tocar, o som chamou sua atenção e no mesmo instante ela despertou e começou a dar atenção para os rituais de abertura da gira.

Os Ogãs começaram a tocar os pontos e a cessão deu seu início, as cortinas foram abertas e neste momento a Raquel olha atentamente para o Altar e vê a Imagem de Jesus com os braços abertos, como se estivesse chamando ela para abraça-la. Seu coração bateu mais forte, suas emoções passaram a ser mais sentidas, em sua mente parecia que tudo tinha desaparecido, não conseguia pensar mais em nada, sua atenção ficou na imagem de Jesus.

Ela sentiu vontade de chorar, mas segurou, ficou observando tudo que estava acontecendo na gira, algumas coisas deixavam ela sem entender.

"Por que estes médiuns estão deitando no chão, por que eles estão passando essa fumaça cheirosa, por que eles estão sempre cantando, nossa quantas coisas diferente".

Raquel não sabia de nada do que estava acontecendo, ficou deslumbrada com os rituais e com o respeito que aqueles médiuns tinham pelo sacerdote e por aquele altar. Seus olhos estavam brilhando e sentia um calor pelo corpo, talvez fosse pelo ambiente ser bem pequeno, mas isto não a incomodava, sua atenção estava voltada para aquele momento.

Os médiuns começaram a incorporar, era gira de Preto Velho, mas ela não tinha idéia do que era isso, as manifestações começaram a chamar sua atenção, ela observava a feição dos médiuns que mudavam e passavam a ser de um ancião, estranho!!! "Será que tudo isso é real, nossa nunca tinha visto isso antes".

Chegou o momento de chamar as pessoas para irem se consultar com as entidades. Seu nome foi chamado por uma moça que ficava no meio do terreiro, entre uma cancela que separava os dois ambientes, neste momento a Raquel se levantou e se direcionou até esta cancela, retirou seu caçado e seguiu até uma senhora que estava sentado em um banquinho de madeira, segurando um cachimbo e um terço, tinha um galhinho de arruda preso na orelha, um lenço branco em sua cabeça e uma postura de uma senhora de muita idade. O tempo que ela levou para chegar até esta preta velha, passou um filme em sua cabeça, ela teve uma lembrança de sua vó que faceleu ainda quando ela era pequena, lembrou do bolo de fubá que sua vó fazia, do cheiro do chá de hortelã, do aroma do cafézinho, sentiu um cafuné, lebrou do toque de suas mãos sobre sua cabeça e a voz de sua vó dizendo:

"Fia, vá com Deus e que Ele te abençoe sempre". Parecia que ela tinha voltado no tempo e todas suas lembranças estavam ativas.

Seu coração ficou apertado, sua mente ficou presa na saudade e quando ela chegou a se sentar de frente com a preta velha ela só quis chorar, e chorou!!!

- Fia, não deixe que o tempo se apague e se perca em tantas lutas e batalhas que você irá enfrentar, são estas lembranças que te darão forças e paciência para superar todos os obstáculos, chore o quanto for preciso, o quanto achar necessário e se for preciso use meu ombro para se apoiar".

Raquel se pôs a chorar como uma criança, toda aquela dor e sofrimento estavam sendo retirados de seu íntimo, seu corpo foi se tornando mais leve, sua mente foi ficando mais tranquila e depois de alguns instantes ela ergueu sua cabeça e olhou para os olhos daquela preta velha e disse uma só palavra.

-Obrigado!!!

Ela recebeu um passe e abraçou novamente a entidade e agradecendo se levantou e foi embora para sua casa.

Raquel teve uma grande lição de vida.

Muitas vezes acreditamos que as repostas e as soluções para os nossos problemas estão em rituais e trabalhos realizados pelas entidades, esquecemos que para nos levantar na vida é preciso recomeçar de dentro pra fora, fazer nossa reforma íntima, buscar valorizar as coisas mais simples que muitas vezes estão dentro de nós.

Nada na vida acontece por acaso, a todo momento estamos em sintonia com Deus, só que não percebemos isso.

A espiritualidade trabalha intensamente para que esta sintonia se mantenha permanente, mesmo que não venhamos a compreender como isto irá acontecer. Esperamos por algo e recebemos conforme merecemos.

Raquel não se converteu á Umbanda, até mesmo porque a Umbanda não converte ninguém pelas graças alcançadas.

Raquel não quis desenvolver sua mediunidade, até mesmo porque não é essa sua missão.

Simplesmente ela vai ao terreiro todas as vezes que sente falta do carinho e do ombro da Vovó que lhe acolheu, vai pra sentir a vibração positiva, pra lembrar do quanto precisamos acreditar em nosso potencial, em nossa capacidade de evoluir e de nos corrigir de dentro pra fora, ela vai ao terreiro sim, para sentir a presença do Amor.

Raquel voltou a viver e a crescer, superou os obstáculos, retomou sua vida, seguiu em frente e venceu. Tudo isso porque ela acreditou e fez por merecer.

Umbanda não é somente rituais e trabalhos, é um de vários caminhos que podemos escolher para nos tornar pessoas melhores a cada dia, basta abrir seu coração e irá perceber o quanto ele é verdadeira e real.

Axé para todos os irmãos.

Alex Costa
Nossa Umbanda

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